CACs lançam candidatos e organizam partido armamentista
Os CACs (colecionadores de armas, atiradores e caçadores) se articulam para a partir de 2023 formarem uma bancada no Congresso. Em todo o País há 34 pré-candidaturas a deputado federal, senador e governador, somente de nomes ligados à Associação Proarmas, porém existem outras Associações, como a ANCAC, que também deve lançar candidatos próprios, como o presidente da associação Tenente Barbieratto. Para os legislativos estaduais e distrital, há mais nomes sendo preparados. É a primeira vez que esse agrupamento, que supera todos os policiais militares em quantidade de membros, se organiza nos Estados e com o Palácio do Planalto para elegerem representantes.
A entrada dos armamentistas oficialmente na política é incentivada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que tem recebido lideranças e pré-candidatos do movimento no Planalto para vídeos e fotos manifestando apoio a esses aliados.
Graças à política pró-armamento do Governo Federal, o total de CAC registrados saltou de 117.467 em 2018, para 673.818 neste ano. O montante supera todos os 406 mil policiais militares da ativa que atuam em todo o País e ainda é maior que o efetivo de cerca de 360 mil homens das Forças Armadas.
O objetivo do movimento é eleger candidatos ao Legislativo em Brasília e nos Estados, para flexibilizar leis que tratam de armamentos. A atuação política, entretanto, já funciona há meses sob a coordenação do Deputado Federal Eduardo Bolsonaro.
Existem atualmente 27 candidaturas à Câmara e ao Senado de armamentistas e políticos regionais que querem formar em Brasília a “bancada dos CAC”. Além desses, há outros nove políticos com mandato no Congresso que recebem oficialmente o apoio dos pró-armas para disputas ao Senado a governos estaduais, com a condição de tratar a pauta armamentista com absoluta prioridade. Há ainda 23 candidatos às assembleias estaduais e distritais. Todos estão distribuídos por PL, PMN, Podemos, PP, PRTB, PSC, PTB, PTC e Republicanos, partidos que formam o Centrão. A bancada que os CACs querem eleger no Congresso e nos Estados é formada por instrutores de tiro, donos de clubes, policiais e advogados.
Propostas
O principal alvo do grupo é a revogação completa da Lei 10 826/03, o Estatuto do Desarmamento. Há outras propostas em estágio avançado de tramitação, mas que ainda estão em debate, como o projeto 3723/2019, enviado por Bolsonaro. O texto regulamenta as atividades de atiradores esportivos, caçadores e colecionadores de armas e revoga um artigo do Estatuto que exige a venda de munições em embalagens com código de rastreio e de armas com dispositivo de segurança e de identificação gravado no corpo da arma. A proposta foi aprovada com mudanças pela Câmara em novembro de 2019 e agora tramita no Senado.
Nas Assembleias, além da facilitação do porte para os CAC, a ideia é ampliar o acesso por meio do barateamento dos preços. No dia 9 de julho, durante evento em Brasília, Eduardo Bolsonaro comemorou no carro de som, a redução do ICMS para compra de armas em Alagoas. “Um gol de bicicleta”, afirmou. “Atenção, deputados estaduais, segunda-feira, missão: entrar com projeto de lei igual do Cabo Bebeto (PL-AL).”
Candidatos confidenciaram que o crescimento substancial no número de CAC no governo Bolsonaro deu à pauta armamentista um potencial para atrair votos. O contingente de mais de 600 mil pessoas não leva em conta os familiares e amigos que também podem ser convencidos a votar nos candidatos do segmento.
As lojas de armas e os clubes de tiros são vistos pelos articuladores como importantes propagadores das candidaturas. Esses estabelecimentos também cresceram exponencialmente no governo Bolsonaro. Hoje, existem 2.066 clubes em todos os Estados. Alguns têm em seus nomes inspiração nacionalista: Patriotas do Brasil, Pátria Armada, Brasil Atividades de Tiro e Armas Brasil.
Partido dos CAC
Na avaliação de especialistas, são grandes as chances de alguns CAC serem eleitos. O movimento, pautado “Não é sobre armas, é sobre liberdade” e que “Arma não gera violência, Arma garante a liberdade”, ganhou espaço no eleitorado conservador e evangélico. Contudo, a real força ainda precisará ser testada nas urnas. Aumentou a organização do grupo e o governo estabelecido apoia essa pauta, mas ainda não sabemos se vai garantir votos.
CAC x bancada da bala
A tradicional “bancada da bala” da Câmara também defende o armamento, mas avança para temas como endurecimento de penas, tipificação de novos crimes e estruturação das polícias nos Estados. A pauta apresentada pelos candidatos do movimento em geral é restrita ao armamentismo, ao apoio a Bolsonaro e ao anti-petismo. Ela pega carona no bolsonarismo, e vice-versa. Nas redes sociais, os candidatos usam expressões como “voupraguerracombolsonaro”.
Lula afirmou que se for eleito vai recolher armas e trocar por livros
Os petistas já planejam mudanças na política de acesso a armas, caso ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito em outubro. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que a posição histórica do partido “é pelo controle (das armas) nos termos que estão no Estatuto do Desarmamento”. O parlamentar ainda é o responsável por planejar o tema da segurança pública no programa de governo de Lula. “Certamente, haverá uma reversão dessas medidas que relaxaram o controle de armas no Brasil”.
